quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Entre a mulher e os anjos

Entre a mulher e os anjos passa discreto um rio sacrificado aos pés dum outono qualquer.
No ergástulo da colectiva censura navega inteira a ilusão que nos torna igual aos deuses.
Quem não deseja é livre, quem sente é o silêncio das palavras que ficam por dizer.
Oco grito revela a argúcia de todas as lágrimas recolhidas no oráculo do anonymous.
Volátil firmeza na reclusão da protecção divina.
Sem mãos nem doutrina encontra-se a primeira razão de viver.
Quem me diz onde está o caminho?
Quem se atreve a fecundar a raiz da minha paz?
Entre a mulher e os anjos não existe um nome, um tempo, um lugar, um sonho.
Um fogo apagado na incandescente liturgia da boreal cor dos lírios selvagens.
Segredo, pejo, mistério, outros alimentos de todas as coisas.
Entre os olhos e as estrelas escondem-se as esquinas de todas as luas que florescem fora da poesia.
Um dedo na primavera ensina, num apagar de luz, a acautelar um tesouro vivo no transe do silêncio.
O bálsamo de um sorriso basta para definir todas as sementes em forma de asa aberta.
Entre a mulher e os anjos passa fulgurante a vida vestida de pequenos nadas.
Assim se chega ao mais profundo haurir da vertigem...

1 comentário:

  1. :):)
    Entre o sonho e a realidade, alteração nefasta do primeiro e trabalho árduo na segunda. Quase não pisa o chão com receio de acordar a loucura que se disfarça de ritmo alucinante, de inexplicável indiferença ou de interesse umbilical. Foge da lamentação, porque procura um restinho de essência, um raio de sol, quem sabe escondido naquele canto de onde obtém uma paisagem estrategicamente observada. Em guerra com o "normal", porque não tem de ser normal, tem de ser diferente. Acredita sobretudo na transformação, na alternativa de uma mão estendida em detrimento de um dedo apontado.
    ;)

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