terça-feira, 4 de maio de 2010

Preciso de uma palavra

Preciso de uma palavra
De rosto abandonado nos joelhos
Removo tatuagens de granito
Na periferia dos lábios
Alma de cata-vento
Busco pegadas de um querer
Que se revela até ao infinito
No batente das letras
Cultivo limos e musgo
Onde outrora chamas de vida
Ergueram templos
De impoluta perfeição
Preciso de uma palavra, apenas
Retiro o sal de uma lágrima
Para temperar os rios e as aves
Embalo um pôr-do-sol
Que fenece antes de ser luz
Tira-me os olhos
Corta-me a língua
Arranca-me o coração
Mas não me deixes acreditar
Que a volúpia da pele
É canto nas margens do trigo
Preciso de uma palavra, agora
Ágil flecha viva atinge o alvo
Segredos rebentam entre as águas e o silêncio
Num murmúrio interdito
Aguardo-te na esquina da esfera
Para te dizer
Que os cavaleiros de Apolo
Partiram sem glória nem destino
Deposto o girassol
É tempo da criação dos nadas
No limiar de todos os elementos do prazer
Encontro a razão da ditadura do vazio
Que me embala e adormece
Não sei viver nem morrer
Aqui permaneço de mãos cerradas
À espera que abril
Me devolva a estrada
Preciso de uma palavra, aquela.
A tua.

Sem comentários:

Enviar um comentário